sexta-feira, setembro 22, 2006

Festival Motomix

Art Brut top of the pops!!!


O Art Brut definitivamente não é uma banda muito típica no meio indie. Numa época de bandas extremamente bem vestidas ou cuidadosamente desleixadas é reconfortante ver alguém como Eddie Argos, o seu vocalista. Primeiro que ele parece um tiozão meio destoante da sua banda de rostos bonitinhos, segundo o cara tem um tremendo jeitão de nerd e pra completar ainda deve a manha de abotoar a camisa errado. E mais: Eddie quase recita as letras com o seu sotaque britânico carregado, gesticula como um Jarvis Cocker menos afetado e comenta cada música do set. Chega a ser estranho ver como alguém tão desajeitado consegue ser tão carismático. Estranho, mas funciona. O Art Brut, que chegou com a torcida ganha no motomix, contou com uma platéia que cantava todas as músicas. Nada mal para uma banda que ainda é vista como uma promessa. Eddie é um letrista com momentos de um cinismo britânico que andava meio esquecido na música. Basta ver os três maiores singles da banda: em “formed a band” ele afirma “that´s my singing voice/It´s not irony” ; “Bang bang rock and roll” detona o Velvet underground e “Emily Cane” poderia parecer emo não fosse o seu lado loser obsessivo – segundo a letra o narrador não vê Emily a exatos 10 anos, 9 meses, 3 semana, 4 dias, 6 horas, 13 minutos e 5 segundos! E falando em Emily Kane uma dica: deixe a versão do disco de lado e procure gravações ao vivo, o discurso cara-de-pau que Argos faz sobre a opinião de Jay-Z sobre o caso já é clássica. Contando ainda com uma baixista com um ar cool meio Kim Deal, um baterista que toca em pé e um guitarrista tão ensandecido que quase esquece de tocar o show do Art Brut só não foi o evento da noite por causa de uma outra banda ainda mais ensandecida...

Tour de Franz!!!

A primeira passagem do Franz Ferdinand por São Paulo foi complicada, abrir para o U2 é atingir um público enorme mas também significa ficar entre o messiânico Bono Vox e um publico em que boa parte deixou de ser fã do U2 para ser seguidor. O Franz segurou a onda mas os seus fãs ficaram com um gosto de aperitivo, algo muito aquém da apresentação que se seguiu no Circo Voador no Rio.
Bem, a banda ficou devendo e resolveu pagar com juros e correção no Festival Motomix. Dava pra sentir a tensão no ar antes da apresentação, finalmente um show em São Paulo para um público de fãs e ainda por cima o último show depois de uma turnê emendada de mais de dois anos. Quando a banda finalmente entrou – depois de um erro com o playback da introdução – as primeiras filas se tornaram uma batalha dançante e saltitante por espaço. Nem mesmo a patrulha anti-cliché me impede de dizer que o tesão da banda em dar o máximo na sua última noite era sentido pela platéia. Mandando “this boy” logo de cara – e com o repertório deles qualquer música escolhida para abrir teria levada a casa abaixo - dava pra ver que o show seria bem diferente de seis meses atrás. Depois de tanto tempo excursionando a banda se divertia tocando as músicas de um modo mais livre e improvisado e tocando algumas músicas menos tocadas. Deu pra se sentir como nos países em que grandes bandas tocam sempre e podem variar. E dá-lhe “Michael”, “40 ft”, “Matinée”, “do you want to” – do you want to São Paulo? - e Alex Kapranos apresentando “take me out” como “ a última vez que iremos tocar esta música”. Esperamos que não. E pra quem não agüentava mais esperar pelo novo FF: “L wells” e “can´t stop feeling” mais duas boas canções com o selo FF de qualidade.
E pra acabar um show histórico uma catarse histórica. Na hora do já tradicional “montinho” na bateria a banda distribuiu bumbos para os membros do Art Brut, Annie e Radio 4 participar da percussão de outsiders. E como se isso ainda não bastasse um Alex Kapranos aparece sem camisa para uma performance de “this fire” sob luzes vermelhas. O resultado? Kapranos joga os dois sapatos para a galera, Paul Thompson toma um banho de vinho tinto e Nick MacCarty joga o teclado(!!!) para o público. Difícil não ficar de queixo caído com o final desta turnê. E que volte o Franz Ferdinand daqui a seis meses...

terça-feira, setembro 12, 2006

Rolling Stone no Brasil? Porra, já era hora...

Outubro desse ano promete ser um mês para se lembrar. Não só pelo aniversário deste (nada) humilde escriba mas pela nova invasão editorial da revista Rolling Stone em terras Brasilis. Já era hora, Argentina, Chile e México já tinham. Em 1972 a revista foi publicada aqui no Rio. Durou um ano e desde então nada. Agora com ainda mais nome e ainda mais grana ela retorna prometendo ficar desta vez. E como fica o mercado editorial brasileiro? Bem, a morte da excelente revista Zero, a hibernação da Bizz e o fim precoce e sem explicações das outras tentativas (só pra citar uma nova: alguém aí se lembra da finada Mosh?) dão uma pista de que publicar uma revista cultural, especialmente uma que depende muito de leitores jovens, no Brasil não é lá a coisa mais fácil do mundo. Sorte deles ter uma matriz internacional cheia de grana por trás.
Aliás, uma tremenda matriz. A Rolling Stone tinha como proposta conter matérias longas e permitia aos seus repórteres serem mais experimentais e essa liberdade rendeu bons frutos não apenas para a identidade da própria revista como também para alguns dos sues repórteres e colaboradores. Cameron Crowe foi repórter lá ainda adolescente e viajou com o Led Zeppelin e o The Who, experiência que mais tarde virou argumento para Quase Famosos seu quarto filme como diretor. Lester Bangs, um dos mais famosos de todos os críticos músicais e apontado como o primeiro a utilizar o termo punk na crítica musical também. Hunter S. Thompson o criador do jornalismo gonzo - estilo que foi definido na contracapa de um dos seus livros como uma mistura de jornalismo, literatura e contracultura - foi outro a achar o seu espaço nas suas páginas.
E falando em espaço cada versão da revista é dividida em metade de matérias traduzida da matriz e metade feita por jornalistas locais. É, agora é só esperar pra ver o que será feito com a nossa metade...